Por: Jorge Silveira Duarte
O turismo é uma força motriz que impulsiona o desenvolvimento econômico, cultural e social de regiões e países em todo o mundo. Para colher os benefícios desse setor, é fundamental uma abordagem estratégica sólida, com o Plano Diretor de Turismo como ponto de partida.
No caso do estado de São Paulo os planos são orientados por normatização própria da Secretaria de Turismo e Viagens e os municípios apresentam esse documento à Assembleia Legislativa para pleitear a condição de Município Turístico e poder receber recursos de um fundo chamado DADETUR – Departamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos.

1. Desenvolvimento de uma governança local do turismo
O primeiro passo para um turismo sustentável e bem-sucedido é a criação e o fortalecimento de uma governança local eficaz. Isso envolve a colaboração entre o governo local e empreendedores vinculados ao atendimento de necessidades do turista. Um sistema de governança sólido pode definir metas claras, regulamentações adequadas e a alocação eficiente de recursos para o turismo. A participação da comunidade é crucial para garantir que os interesses locais sejam atendidos, e a transparência é fundamental para construir a confiança entre todos os envolvidos.
O que favorece uma boa governança local?
É o planejamento colaborativo entre os diversos atores envolvidos. Para isso acontecer o diálogo e o direito da palavra tem que ser garantidos nos diversos fóruns de construção. Um outro ponto fundamental é que tudo que seja acordado no planejamento, seja nas reuniões de COMTUR – Conselho Municipal de Turismo ou nas audiências públicas ou ainda com o executivo municipal, seja efetivamente respeitado e cumprido. Dessa forma gera-se capital social e condições de sustentabilidade política de um projeto de desenvolvimento.

O que rompe uma governança local?
Prefeitos centralizadores que não reconhecem o esforço da iniciativa privada, que não preveem uma agenda de interação com o “trade do turismo” e nem são afeitos ao diálogo permanente na construção de uma política pública para o desenvolvimento do turismo.
Também pessoas da iniciativa privada acostumadas a reclamar sem base de dados ou fundamentação e com linguajar reivindicatório costumam desvirtuar reuniões ou encontros em que é preciso construir soluções.
Cada cidadão, enquanto um agente de desenvolvimento, deve conscientemente considerar o seu papel em várias instâncias de participação, ouvindo de maneira atenta as opiniões e propostas dos outros participantes, contribuindo com suas próprias ideias e, por meio de diálogos construtivos, trabalhar na busca de consensos. Em muitos casos, é necessário também aceitar decisões com as quais ele não concorde completamente, reconhecendo a importância do compromisso em prol do bem comum.
A democracia tem que ser o principal valor orientador de todo o processo de articulação, interação e implementação de uma visão compartilhada por meio de ações que levem ao futuro desejado.

Por tanto, que haja desenvolvimento é preciso que se compartilhe uma visão de futuro. O Plano Diretor de uma cidade deveria evidenciar o futuro desejado de uma comunidade, mas algumas cidades não tem esse plano e muitas das que tem não evidenciam claramente esse anseio ou não preveem estratégias para trilhar esse caminho para o futuro.
2. Pesquisas e conhecimento da demanda e da oferta turística
Uma estratégia de sucesso começa com uma profunda compreensão do mercado e das tendências que o permeiam. Investir em pesquisas de mercado, avaliações de impacto ambiental e estudos de demanda é imprescindível para identificar oportunidades e desafios. Além disso, é crucial promover a capacitação e formação contínua dos profissionais do setor. O desenvolvimento constante de conhecimento permite que gestores e trabalhadores do turismo estejam preparados para enfrentar os desafios em constante evolução.

Transformar a realidade a partir da organização de dados e da análise no contexto local que leva ao conhecimento, é o que podemos chamar de inteligência. A própria tecnologia incluindo a inteligência artificial se não utilizada para a mudança tornam-se efêmera e sem efetividade.
Não podemos esquecer dos anseios da comunidade. Qual desenvolvimento turístico se deseja? Qual movimento e carga é razoável promover para garantir um turismo sustentável?
É fundamental estar consciente de que o crescimento não equivale necessariamente ao desenvolvimento. O mero aumento do fluxo turístico, por exemplo, não assegura o progresso de uma região. Em certos casos, pode até mesmo resultar em retrocessos ou danos ao meio ambiente.
3. Melhoria da Infraestrutura e Desenvolvimento do Comércio Local
A infraestrutura desempenha um papel central no desenvolvimento do turismo. Estradas, aeroportos, hotéis, restaurantes e outras instalações devem ser modernizados e mantidos para atender às necessidades dos visitantes.

Esse papel é destinado em grande parte ao poder público que deve ofertar um conjunto de serviços básicos como a água, luz, gás, transporte público em geral (rodovias, portos, ferrovias, etc.) rede de esgoto, segurança, limpeza urbana, iluminação, que são os principais sistemas e indispensáveis para garantir à população de uma cidade e à população flutuante uma melhor qualidade de vida.
4. Qualificação da Oferta Turística
A excelência na oferta turística desempenha um papel de suma importância tanto na satisfação dos visitantes quanto na construção de uma reputação positiva. Portanto, é crucial investir na melhoria dos serviços, que incluem guias turísticos altamente capacitados, experiências autênticas, opções de entretenimento de qualidade, acomodações de nível superior e uma gastronomia de destaque. Além disso, é essencial promover atrativos turísticos relevantes e fomentar o desenvolvimento do comércio local, que pode oferecer produtos e serviços genuinamente representativos da região. Essas medidas não apenas aumentam o apelo para os turistas, mas também impulsionam a economia local de maneira positiva.

Além disso, promover a sustentabilidade ambiental e social na oferta turística é fundamental para garantir que as gerações futuras também possam desfrutar dos recursos naturais e culturais da região.
Podemos acompanhar quatro indicadores-chave para avaliar a qualidade da experiência do turista
Produto ou serviço diferenciado e de qualidade, Preço compatível com a oferta, Estética do produto, do local, da apresentação do atendente, Atendimento acolhedor, cordial, educado, atento.

5. Marketing Turístico com Foco na Identidade Territorial
A identidade territorial é o coração do turismo. Cada região possui uma história, cultura e paisagem únicas que a tornam especial. O marketing turístico deve destacar essas características distintivas e criar uma narrativa autêntica que ressoe com os visitantes. Além disso, a promoção eficaz nos mercados-alvo é crucial para atrair turistas. Isso inclui o uso de tecnologias digitais, mídia social e parcerias estratégicas para ampliar o alcance da mensagem.

Gestão da comunicação: A gestão da comunicação desempenha um papel crucial na implementação de um Plano Diretor de Turismo, dada a complexidade das diversas ações e projetos envolvidos em seu desenvolvimento ao longo do tempo. Estruturar e disponibilizar essas informações de forma organizada é fundamental para proporcionar uma visão clara do andamento do turismo, identificando o que está ocorrendo e o que não está. Nesse contexto, a criação de uma página web se revela um meio valioso para a governança local do turismo, permitindo ajustes oportunos na implementação do plano conforme necessário.

Em resumo, o desenvolvimento do turismo não é apenas um plano, mas um compromisso de longo prazo com a transformação de potencial em realidade. Com um Plano Diretor de Turismo bem elaborado e a implementação cuidadosa dessas cinco estratégias: governança local sólida, pesquisa e conhecimento, boa infraestrutura, qualificação da oferta e marketing focado na identidade territorial – as comunidades podem colher os benefícios econômicos e culturais do turismo de forma sustentável e responsável.

Jorge C. Silveira Duarte Psicólogo, com pós-graduação em Recursos Humanos e especialização em Desenvolvimento Local pelo Centro Internacional de Formação da OIT/ONU/Itália, com MBA em Gestão e Empreendedorismo Social pela FIA/USP e com formação em Coaching pela Jyväskylä University of Applied Sciences/Finlândia. Trabalhou no Senac São Paulo de 1997 à 2021 com desenvolvimento de comunidades e planejamento municipal e regional do turismo. Criou os programas Rede Social, Desenvolvimento Local e Regionalização do Turismo.
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